Guia Alimentar Para a População Brasileira: o que é e qual a sua importância?

A edição mais recente do Guia Alimentar para a População Brasileira foi publicada em 2014 em parceria com o Nupens e com o apoio da Organização Pan Americana da Saúde (Opas/Brasil). 

De caráter inovador, trouxe evidências e orientações para estruturar políticas públicas e programas de nutrição e saúde. O Guia quebrou paradigmas, estabelecendo novos conceitos no campo da Nutrição.

História do Guia Alimentar Para a população brasileira

A primeira edição do Guia Alimentar Para A População Brasileira foi lançada em 2006 e foi responsável pelo início das discussões sobre as iniciativas voltadas à alimentação e nutrição. Porém, tratava-se de um documento técnico e de difícil compreensão até mesmo para profissionais que não fossem nutricionistas.

Até então, os alimentos costumavam ser classificados conforme o seu perfil de nutrientes. Um grande exemplo desta categorização é a pirâmide alimentar. Nesse modelo, os alimentos são classificados em diferentes grupos por serem fontes de carboidratos, proteínas e gorduras. Porém, em um atual cenário marcado por doenças crônicas e mudanças nos padrões alimentares da população, essa classificação torna-se desatualizada e incompleta. 

Além disso, essa abordagem estritamente baseada em nutrientes acaba desconsiderando outras características do consumo alimentar que se associam com a saúde, como os alimentos, as combinações de alimentos (preparações culinárias ou refeições) e  a comensalidade (modos de comer).

A contribuição da classificação NOVA

O surgimento da Classificação NOVA, em 2009, foi uma grande mudança de paradigma, revolucionando a maneira como a ciência enxerga a Nutrição e ampliando o conceito de alimentação saudável.

A NOVA destacou os diferentes tipos de processamento de alimentos, tecnologias necessárias, que fazem parte de nossa rotina alimentar. Para essa classificação, foi levado em conta o propósito do processamento industrial a que os alimentos são submetidos antes da sua aquisição, de seu preparo e do consumo pelos indivíduos. 

Com isso, definiu-se a divisão em quatro categorias: 

  • In natura/minimamente processados
    • Os alimentos in natura são aqueles comercializados da forma que são obtidos da natureza. 
    • Os alimentos minimamente processados não possuem nenhuma adição. Podem ser higienizados e embalados.
  • Ingredientes culinários
    • São os ingredientes usados para preparar os alimentos in natura ou minimamente processados. Ex: sal, açúcares, óleos/gorduras, temperos frescos ou desidratados.
  • Alimentos processados
    • São os alimentos minimamente processados com a adição de algo para aumentar a durabilidade, como, por exemplo, um ingrediente culinário. Se os conservantes não forem naturais, passa a ser um alimento ultraprocessado.
  • Alimentos ultraprocessados
    • São alimentos que recebem a adição de aditivos cosméticos para aumentar a durabilidade. Geralmente esses aditivos cosméticos terminam em ANTE, como conservante, corante, aromatizante, edulcorante, estabilizante.

A classificação NOVA reconhece a utilidade e os benefícios de diversos tipos de processamento de alimentos que ampliam a sua duração e ajudam a diversificar a dieta. Como, por exemplo, a secagem de feijões, a moagem de grãos e cereais no formato de farinhas, a pasteurização do leite, a extração e refino de óleos vegetais e a fermentação de queijos.

Entretanto, os alimentos ultraprocessados são completamente diferentes. Eles são, em sua maioria, formulações de ingredientes de uso exclusivamente industrial (como estabilizantes), que resultam de uma série de processamentos industriais. Diversas evidências científicas vêm demonstrando a relação destes produtos com o desenvolvimento de obesidade, diabetes, câncer e outras doenças crônicas não transmissíveis.

O Guia Alimentar, se baseando na classificação NOVA, traz uma recomendação conhecida como regra de ouro: “Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados”.

Novidades da edição de 2014

A edição de 2014 do Guia Alimentar da População Brasileira, além de considerar o processamento de alimentos e seus nutrientes, também leva em consideração que a nutrição envolve alimentos, refeições, modos de comer e aspectos sociais e culturais das práticas alimentares.

Nos exemplos de refeições saudáveis expostos no documento, há diferentes tipos de alimentos e preparações culinárias que incluem alimentos de uso regional, como o açaí (na região Norte) ou o cuscuz (mais comum no Nordeste).

Além disso, o Guia não determina um número ideal de porções para o consumo de cada alimento. Isso porque não existe uma única quantidade possível de um dado ingrediente para se ter uma alimentação saudável.

Outro ponto de destaque é a orientação sobre as circunstâncias que envolvem o ato de comer, para além do “o que comer”. Desse modo, surgiu o conceito de comensalidade, que considera aspectos como o tempo e a atenção dedicados ao ato de comer, o ambiente das refeições e os fatores sociais envolvidos, como a companhia de outras pessoas.

Referências

Guia Alimentar para a população brasileira | Nupens. Disponível em: <https://www.fsp.usp.br/nupens/guia-alimentar-para-a-populacao-brasileira/>. Acesso em: 27 mar. 2024.

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